Projeto vai colocar 8 marcas de propriedade racializada para apresentar suas coleções na SPFW.
O Radar R50 de hoje é um pouco diferente: ao invés de apresentar as últimas novidades da moda autoral nacional, hoje apresento as 8 marcas do Projeto Sankofa. Idealizado pelo VAMO (Vetor Afro-Indígena na Moda) e pelo Pretos Na Moda, o Sankofa é um projeto que vai colocar 8 marcas de pessoas racializadas nas próximas três edições da São Paulo Fashion Week, além de garantir mentorias e acompanhamento com marcas já veteranas do evento.
O projeto é um passo importante para empretecer a moda nacional e colocar mais criadores pretes em evidência, por isso, no Radar de hoje, dedico esse espaço a essas oito marcas.
SILVERIO
Marca de Rafa Silvério, um dos principais idealizadores do VAMO, se propõe a reinventar a noção de belo, combinando volumes inventivos com silhuetas lúdicas e românticas, buscando inspirações em questões autobiográficas, filosofia,psicologia, literatura, música e tecnologia. Rafael Silvério é neto de duas costureiras e filho de uma mãe que consumia muita moda nos anos 90, ele conta que estar nesse ambiente inspirou sua inventividade e não demorou para que ele começasse a desenhar.
Anos depois, Rafa Silvério ingressaria em Desenho de Moda na Faculdade Santa Marcelina e se graduaria pela UNIP em Negócios Internacionais e Comércio Exterior (2019). O empreendedorismo, com a criação da marca própria, veio como uma alternativa a dificuldade de encontrar colocação no mercado de moda: “Só fui me dar conta que essa não colocação dentro da indústria era uma questão de racismo estrutural recentemente, após um letramento racial. A marca já nasce como resposta a um estrutura que sempre me disse não” conta.
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Sobre sua participação na SPFW pelo Projeto Sankofa: “O Projeto Sankofa me ofereceu contato e acesso a lugares que nesse tempo de marca não consegui chegar, dissipando em mim a sensação de invisibilidade. Fazer o ingresso na SPFW não sozinho, mas com outras 7 marcas que sabem o quão pesado é deter uma armadura contra o racismo sistêmico que a Moda está pautada, me acalenta. Para a estreia iremos levar uma coleção que fala sobre a Escuridão, diante de toda a crise sanitária, política e financeira, julguei ser o momento oportuno para fazer um relato da experiência da ausência de luz não pela pela percepção, mas pela afetividade.” finaliza.
MENINOS REI
“Um novo olhar está sendo despertado para quem produz Moda no Nordeste e em outros lugares fora do eixo, o projeto Sankofa prova isso” contam os irmãos Júnior e Céu Rocha, criadores da baiana Meninos Rei. Júnior é autodidata e trabalha com styling no mercado publicitário e cultural há mais de 15 anos, já Céu, formado em design de moda, atua como estilista e stylist.
“Nos definimos como uma marca esteticamente preta na sua fonte de inspiração, uma marca que reapresenta de forma moderna o tecido africano, um tecido ancestral e que além de beleza carrega muitas simbologias.” afirmam, reiterando a surpresa de participar do maior evento de moda da América Latina e a importância da presença de marcas como a Meninos Rei nas passarelas (ainda que digitais) da São Paulo Fashion Week.
ATELIÊ MÃO DE MÃE
Na marca Ateliê Mão de Mãe, a ancestralidade afrobrasileira é passada para frente através das técnicas manuais e artesanais praticadas por Vinicius Santana, Patrick Fortuna e Luciene Brito, criadores da marca, natural de Salvador.
“Somos uma marca totalmente handmade com principal objetivo valorização da arte e profissionalização da mão de obra artesã e Feminina. Nossa maior fonte de inspiração é uma mulher, mãe solteira que para o sustento dos seus, desde cedo vem produzindo e comercializando sua arte. Nosso maior desejo é criar um coletivo de mulheres para profissionalização e inseri-las no mercado de trabalho.” conta o trio.
Vinicius sempre enxergou muito potencial na arte de sua mãe e inaugurou o sonho quando criou o Ateliê Mão de Mãe; Patrick trabalhava no varejo de moda, na extinta Yes Brazil e Luciene é artesã desde os 14 anos de idade. Eles nos confidenciam: “Um projeto como o Sankofa faz a gente voltar a acreditar nos sonhos. Por muito tempo, estilistas racialiazados foram apagados da história da moda. Nunca tivemos a oportunidade de mostrar nossas criações e acima de tudo ter a liberdade de falar sobre Ancestralidade, Retratar através das nossas criações, vivências e aprendizados deixados por nossos antepassados. Que sejamos um divisor de águas para as próximas gerações”
SANTA RESISTÊNCIA
Mônica Sampaio, 52 anos, natural do Rio de Janeiro e Engenheira Eletricista é o nome por trás da Santa Resistência. A marca é essencialmente feminina sem necessariamente ser exclusiva de gênero. O DNA africano é marcante nas criações que buscam trazer toda a multiplicidade do continente em peças fluidas, com cores marcantes, que contam histórias.
“O projeto SANKOFA é um divisor de águas para a marca Santa Resistência e uma oportunidade ímpar de estarmos na maior vitrine de moda da América Latina. Esse é um projeto percursor e as minhas expectativas são as melhores para a apresentação. Fiz uma coleção linda e uma homenagem à uma mulher incrível , então estou super confiante que será um sucesso.” conta Mônica.
MILE LAB
“Quais seriam as chances e oportunidades que uma marca preta e marginal teria de adentrar a maior semana de moda da américa latina se não fosse o Sankofa?” reflete Milena Lima (22 anos), criadora da MILE LAB, marca natural de São Paulo, do Grajaú. Milena cursou Design de Moda na Universidade Anhembi Morumbi, mas teve de descontinuar o curso para seguir com a marca.
“A estrutura que dá vida a este corpo, é o território, é a identidade marginal e a potência que transborda as margens, percebida dentro do Grajaú. Mile Lab e Periferia é o embalo de um abraço que vai levando uma a outra para lugares onde seja perceptível ao mundo, a luz que esse espaço carrega.” afirma Milena. Para a apresentação na São Paulo Fashion Week, a MILE LAB fala sobre a presença da força ancestral no corpo marginal e espera que a dedicação colocada no projeto possa ser sentido por quem o assiste e que pessoas e comunidades possam se sentir legitimadas com essa construção.
AZ MARIAS
De mulheres para mulheres, a AZ Marias é uma marca de roupas sustentáveis, que celebra o corpo real e opera em slow fashion. Resíduos têxteis são transformados em novas roupas para corpos reais por Cintia Maria (Cintia Felix), que é Formada em Artes com habilitação em Figurino e Pós Graduada em Design de Moda.
Com propósito de impacto bem definido em três pilares, Cintia afirma: “A AZ Marias é um negócio de impacto socioambiental disposto a repensar o processo de fazer roupas, transformando resíduos têxteis em peça novas, treinando gratuitamente as costureiras para precificarem sua mão de obra de forma justa e correta, combatendo o trabalho análogo à escravidão e tenho o corpo real como centralidade da criação”.
“Na história do SPFW nunca vimos um movimento tão forte (em quantidade), de levar estilistas pretos para o lineup, nunca de forma tão numerosa: são 08 marcas, no mínimo 32 pessoas impactadas por essa estreia, isso só corrobora para mostrar que há um caminho rumo à equidade que tanto é falado, o SPFW está junto conosco dando um significativo passo para a moda brasileira.” completa.
TA STUDIOS
De assistente de modelagem a designer, estilista e coordenação de estilo, Gi Caldas já passou por diversos setores da moda antes de fundar a TA Studios e se tornar uma das guardiãs do VAMO.
A marca, que começou em 2013, só se tornou a TA Studios em 2019, conta Gi: “O diferencial são coleções plurais, sem gênero, com escuta. Me sinto orgulhosa de respirar um ar balneário carioca e de misturar com o corre-corre da cidade, de usar materiais escolhidos a dedo, do ponto de vista eco e feitos no Brasil.” A expectativa para o Sankofa, uma oportunidade para a qual a Gi Caldas já se preparava há algum tempo, é alta: “Tive um ensaio de desfile em uma semana de moda em 2019, mas nada se compara em acelerar esse processo em pelo menos 5 anos. Essa era a minha meta para 2025 e atingi agora, dentro do Sankofa.”
NAYA VIOLETA
“O Contém Axé”, lema da marca, é um resgate da religiosidade afrobrasileira de Naya Violeta, fundadora da marca. Ser de Candomblé é parte constituinte da sua construção como mulher preta, estilista e marca, ela afirma. Graduada na Universidade Estadual de Goiás em Design Moda, Naya cresceu em quintais de tias costureiras, enxergando o fazer roupa como um processo de autonomia.
Para Naya, sua busca incessante é pela construção de uma moda que o mercado não a oferecia: com representatividade. Por isso, o Projeto Sankofa é tão significativo para a Naya Violeta: “Fazer parte do projeto Sankofa é adentrar a maior semana de moda da América Latina ao lado de marcas potentes. Para a marca, significa abrir caminho, afinal, somos 8 marcas racializadas espalhadas pelo Brasil, que carregam muita história, trajetória e sonhos. Um processo que não preza apenas por realizações individuais e sim por uma união coletiva”
Fonte: FFW | Matéria: Luxas Assunção | Imagens: Cortesia
Responsável: Robinson Silva | Empresa: RLS50 CONSULTORIA | Conteúdo: B50