Especialista internacional fala de combinação entre ciência e moda
Quando o jovem cientista colombiano Juan Hinestroza iniciou sua pesquisa de nanotecnologia em têxteis nos idos de 2003, o assunto era pouco comentado e, por muitas vezes, visto como algo nebuloso e até mesmo impossível. “Naquela época, muitas pessoas se referiam a nós como ‘loucos’, em relação às dimensões e discrepâncias entre nano materiais e têxteis. Era como tentar conseguir o domínio do invisível e fazer com que o visível fosse compatível”, relembra Hinestroza.
Talvez, aqueles que acreditavam que estes estudos não passavam de
algo intangível, não faziam ideia dos progressos da ciência e das mudanças no consumo em um pouco mais de uma década. De lá para cá, o professor titular de Ciências da Fibra e diretor do Laboratório de Nanotecnologia Têxtil na Faculdade de Ecologia Humana da Universidade de Cornell, em Ithaca, NY, Juan Hinestroza, conseguiu comprovar que sua teoria é possível e simplesmente se tornou um dos nomes mais respeitados da área.
Referência no assunto, o especialista será Keynote Speaker do painel “How Technology Can Be Applied in Fashion? Merging Fiber Science and Apparel Design” (em tradução livre: Como a tecnologia pode ser aplicada na moda? Combinando ciência de fibras com design de vestuário). A apresentação acontecerá durante a 33ª Conferência da IAF no Brasil, realizada entre 16 e 18 de outubro, no Grand Hyatt, no Rio de Janeiro.
Entrevista
Seu painel “Como a tecnologia pode ser aplicada na moda? Combinando ciência de fibras e design de vestuário” trata sobre o link entre alta tecnologia e itens de moda? Como isso é possível?
É possível fundir ciência e moda. O principal obstáculo para os designers é ter acesso aos materiais que podem expressar sua criatividade. Ao invés de usar um tecido existente, os designers, juntamente com os cientistas, podem criar o próprio material. É um esforço difícil, pois cada um tem um conjunto de habilidades que, a primeira vista, parecem incompatíveis, mas provamos nos últimos 13 anos que essa combinação é possível. Projetar seus próprios materiais pode dar novos graus de liberdade às mentes criativas, tanto na ciência, como na moda. A moda precisa abordar a amplitude de roupas funcionais, da mesma forma que os fabricantes de joias e relógios estão se adaptando aos gadgets que fazem mais do que servir como estética.
Como empresários brasileiros ou designers podem trabalhar com tecnologia e moda para ganhar competitividade?
Penso que os brasileiros, bem como outros latino-americanos, têm uma vantagem incrível, pois, por natureza, somos pensadores muito flexíveis e ágeis que podemos improvisar e inovar. É algo em nossa cultura de caos e desordem que permite pensar dessa maneira e isso está se tornando um ativo. Os latino-americanos podem prosperar em ambientes cheios de incerteza e podem criar no meio do caos. A fusão da tecnologia e da moda é caótica e incerta e, com certeza, os brasileiros talentosos terão sucesso.
Quais os tipos de produtos que uma indústria de têxteis ou vestuário pode fabricar com nanotecnologia?
A beleza dos nano materiais é que, na maioria dos casos, não são necessárias mudanças nas instalações de fabricação existentes. A química em que trabalhamos é a base de água e pequenas quantidades de solventes são necessárias. Em alguns casos, trabalhamos com nano materiais de plantas e produtos naturais. O preço desses materiais é algo em que não sou especialista, já que trabalho na ciência, mas acho que os benefícios que eles trarão podem ultrapassar o custo dessas novas matérias-primas. Ainda vamos usar 99,5% de materiais têxteis e apenas adicionar 0,5% ou menos dos novos nano materiais. O truque é onde usar esses materiais para alcançar o valor máximo.
Você pode falar um pouco sobre seus estudos sobre nanotecnologia e sobre a relevância para a Fibra e Polímeros?
Começamos a trabalhar na nanotecnologia nos têxteis em 2003. Era como tentar obter o domínio invisível e visível para ser compatível. Com base nas críticas, avançamos e persistimos e lentamente provamos como esses nano materiais poderiam influenciar as propriedades dos produtos têxteis, sem afetar o conforto e a capacidade de cortar e se sentir bem com um usuário. Minha primeira conversa sobre o potencial de fundir ciência e design aconteceu, em São Paulo, em 2004 em uma visita ao Brasil, que eu não vou esquecer, pois todas as ideias que propus naquela conversa, tornaram-se realidade e isso me faz muito feliz como um cientista e como um latino.
Anote:
33º IAF World Fashion Convention
Data: 16 a 18 de outubro de 2017
Local: Grand Hyatt – Av. Lucio Costa 9600 – Barra da Tijuca – Rio de Janeiro (RJ)
Inscrições e informações: http://www.iafconventionbrazil.com.br/cont/inscricoes
Fonte: Abit