Craftcore: o resgate do artesanal se confirma como a maior tendência de 2020
O súbito interesse de designers de diferentes regiões do mundo por técnicas tradicionais e manuais, como o crochê, o tricô e o bordado vem chamando a atenção de consumidores e críticos de moda desde as temporadas de moda internacionais do verão 21 e se consolidou na mais recente edição do SPFW.
Esse resgate da estética e técnicas artesanais não é ocasional, e sim, reflete diretamente a urgência que temos de nos conectar novamente com o manual, com o toque e com sentimento de acolhimento em oposição à digitalização da vida e a banalização gerada pela indústria de produção em massa. Especialistas em tendências já haviam previsto desde 2018 uma busca maior por produtos caseiros, desde alimentos, produtos de higiene, de decoração e claro, de vestuário. A princípio, a análise dessa necessidade se deu devido ao nosso estilo de vida atual onde quase não temos contato físico com as pessoas ao nosso redor e estamos cercados por telas digitais, ocasionando uma diminuição do estímulo tátil. Nos acostumamos também a comprar em supermercados e lojas, produtos prontos para o consumo, e não nos envolvemos no preparo de nada, algo que pode ser resgatado durante o feitio e o uso de uma peça de crochê, por exemplo.
Além da necessidade do toque e contato, o movimento pela criação e consumo de produtos caseiros teve um aceleramento em 2020 pois, com parte do mundo confinado em suas casas muitas pessoas se abriram a cultivar novos hábitos e aprender atividades manuais. E dentre esses hábitos vemos pessoas fazendo pão, cultivando hortas, costurando, pintando, bordando e fazendo crochê, e assim nasceu o que chamamos de “Craftcore”. O que já era uma tendência, ganhou mais e mais adeptos e notoriedade com vídeos de tutoriais ensinando diferentes hobbies para se praticar em casa à fim de passar o tempo e diminuir a ansiedade causada pela pandemia e ainda gerar uma renda extra com a venda dos produtos. Como bem frisado pela psiquiatra Dominique Kaehler Schweizer, conhecida pelo pseudônimo de Madame Tricô, pessoas que exercem um hobbie – como o tricô – sofrem menos de estresse e depressão e tem uma ótima ferramenta terapêutica para auxiliar no tratamento de traumas.
A subcultura do “Craftcore”, além de refletir a abundância de elementos artesanais, se alinha ao movimento do upcycling – prática cada vez mais comum, usada para retrabalhar roupas e objetos já existentes. Agravado pela falta de acesso a matéria prima ou a mão de obra, restou a vários designers explorar técnicas caseiras e materiais e peças que já estavam em seus estoques para criar suas coleções durante a pandemia do Covid 19. A valorização da tradição, do local, do caseiro e do artesanal é apenas o começo desse resgate que desperta memórias e restaura o que havia se perdido com advento do fast fashion.
Lá fora, o tricô e o crochê apareceram nas coleções recém lançadas da Chloé, Anna Sui, Thebe Magugu, Fendi e Wales Bonner. Para quem gosta de peças mais extravagantes, destacamos as criações da marca Hope Macaulay, tudo feito a mão e sob encomenda em cores e formatos únicos.
Brasil artesanal
Por ser um país de grandes tradições artesanais, por aqui não poderia ser diferente. Da última edição da SPFW, podemos destacar o trabalho incrível de Victor Hugo Mattos com a coleção ‘Cálida’, que mostrou peças de vestuário e acessórios em crochê com aplicações de sementes naturais, contas de porcelana, cristais de vidro e cascalhos.
A A.Niemeyer explorou diferentes técnicas e materiais, e o destaque vai para as bolsas artesanais em tons terrosos e muito descoladas. Já A LED, de Célio Dias, apresentou a sua coleção ‘Brasileira’ repleta de peças de crochê feitas à mão com fios nacionais, com shapes super modernos e sem gênero. Outro destaque foi a coleção de Isaac Silva, que explorou temas como as crenças e sentimentos, e desenvolveu bolsas e acessórios artesanais em parceria com a artista Nanda Macramê.
Já dentro do lineup da BRIFW, projeto dedicado totalmente à tecnologia imersiva, os estilista Juan De La Paz e Annais Yucra se destacaram por contrapor o ambiente digital das apresentações com peças feitas em crochê manual.
No destaque artesanal, ainda temos Renata Buzzo que estreou no SPFW com a coleção “Estudos Melancólicos”, e que criou peças veganas, sob medida com detalhes de tranças incríveis, e claro, João Pimenta que encerrou o terceiro dia uma coleção rebelde com peças repletas de aplicações e bordados que remetem ao patchwork.
Fonte: FFW | Matéria: Mariáh Cidral | Imagens: Divulgação
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