Valorizando o artesanato milenar, Bryan e Abi querem levar a cultura ancestral originária para a nova geração

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Quando se fala sobre a cultura imigrante no Brasil, pouco se olha para a cultura dos nossos hermanos, em especial, a Bolívia. País considerado o mais indígena dos países, hoje seus cidadãos preenchem a maior comunidade de imigrantes na cidade de São Paulo. De acordo com dados de 2019 da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), mais de 75 mil bolivianos moram na capital paulista, se concentrando nas regiões de Brás, Bom Retiro e Pari. Nesse contexto social, surgiu Kantupac La Marka, marca de streetwear que reflete a essência do street style banhado na ancestralidade milenar. Criada por Bryan De Lapaz e Abi Llanque, a marca nasceu como um festival de hip hop que levava o mesmo nome, como forma de gerar conexão entre a comunidade abya yala em São Paulo e agora continuam a fazer isso por meio da moda.

RLS50™ | B50™ | FOTO.: CORTESIA, BRYAN DELAPAZ VESTINDO SUA CRIAÇÃO.

“O Kantupac surgiu em 2015 como um evento de música que acontecia na praça Kantuta. O nome significa uma flor que resiste ao clima pesado dos andes, que leva as cores da bandeira da Bolívia, que são o vermelho, amarelo e verde, que também faz parte de nossa paleta de cores”, explica Bryan, que complementa que assim como o nome da praça, o nome de Tupac Amaru II e Tupac Shakur foram inspirações para o nome, como forma de evocar a cultura tradicional e musical.  Em 2016, um ano após o evento acabar, o casal se juntou para lançar suas ideias como uma marca de roupa, porque não se sentiam representados pelo estilo de roupa da cena.

explica Bryan
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“A cultura hip hop envolve todo um estilo de vida combinado com a moda. Eu sempre gostei das roupas desse universo, mas tudo que tinha era muito americanizado e eu não me identificava com a mensagem”, recorda o designer e rapper. Ele, que aprendeu a costurar com o pai artesão, se juntou com a esposa modelista para confeccionar acessórios, até que em 2019 o negócio ganhou força e eles puderam aumentar mais a variedade de produtos.  Para pronta entrega, a marca dispõe de pulseiras feitas no aguayo, o tecido com padronagem colorida feito de tear manual tradicional nas culturas andinas, visto em toda peça da dupla.

Bryan
RLS50™ | B50™ | FOTO.: CORTESIA, ABI LLANQUE, VESTINDO SUA CRIAÇÃO.

Por ser uma matéria prima comprada da Bolívia, o aguayo, que é o símbolo principal das culturas andinas, que faz com que a produção das roupas seja limitada e sob encomenda, enquanto itens mais simples como chapéus, bonés, máscaras e pescoceiras são vendidos pela internet com pronta entrega. Mas o que é o carro chefe mesmo são as peças por encomenda, como moletons e jaquetas. “A gente prefere fazer peças sob encomenda porque elas acabam sendo únicas. O corte, costura e estampa com aguayo fazemos de acordo como o cliente quer”, explica Bryan. 

Bolsas são as peças que mais se popularizaram entre a comunidade boliviana em São Paulo. Tanto é que elas disputam espaço nas fotos de divulgação com os bonés de aba reta, outro favorito dos clientes da marca. “Uma roupa não é só uma peça para cobrir o corpo. Ela também serve para você levar uma mensagem de luta e identidade. O aguayo é milenar e único, faz parte de nossa tradição”, diz Bryan. O tecido varia o tom de cor, sempre gerando uma estampa original, que pode ser customizada pelos estilistas.  

Camisetas estampadas também fazem parte do catálogo da marca. “Tiro os moldes e finalizo enquanto o Bryan cuida das criações de artes e divulgação, mas nós dois criamos e costuramos juntos”, comenta Abi.

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Abi e Bryan contam que o propósito da Kantupac é levar orgulho, cultura e ancestralidade para os imigrantes bolivianos e seus filhos, principalmente indígenas. Abi comenta que até pouco tempo não se reconhecia como indígena e que isso é muito comum entre a comunidade. “Tive muita experiência de pessoas mais velhas com vergonha de sua origem e isso acontecia comigo também, foi no processo de produção que pude entender minhas raízes e me manifestar elas pela música e pela moda”, contextualiza. O objetivo de  levar a cultura ancestral originária para a nova geração, mas sem deixar o zeitgeist de lado, é um dos legados que a marca vai construindo entre a população aimara paulistana. 

Fonte: FFW | Matéria: Gabriel Fusari | Imagens: Cortesia

Responsável: Robinson Silva | Empresa:  RLS50 CONSULTORIA | Conteúdo: B50

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